
O cirurgião do aparelho digestivo do Gastro Medical Center, Silvio Feiber Filho tem grande experiência na área e explica o problema de saúde que levou o presidente Jair Bolsonaro a ser internado após fortes dores abdominais e crise persistente de soluço.
“Inicialmente se achava que o presidente tivesse uma obstrução intestinal total – quando a passagem do intestino é obstruída por completo, mas após exames, o diagnóstico foi de suboclusão intestinal – quando a obstrução é parcial”, explica Silvio.
O médico conta que a principal causa da obstrução intestinal é desencadeada pela formação de um tecido fibroso durante o processo de cicatrização, geralmente causada por cirurgia anterior.
“A formação da aderência é um problema que acomete aproximadamente 10% dos pacientes que fizeram laparotomia – cirurgia que abre o abdômen para a manipulação do intestino. Na videoendoscopia, em que o procedimento é menos invasivo, essa situação é praticamente nula. Quanto maior é a cirurgia, maior a chance de acontecer a obstrução”, acrescenta.
O cirurgião lembra que o presidente foi vítima de um ferimento por arma branca há quase três anos. “Ele passou por quatro cirurgias devido a esse episódio, o que aumentou a chance da formação da aderência”.
Silvio explica que pacientes na mesma situação que a do presidente param de eliminar gases e fezes, o abdômen distende e tenham com mais frequência arrotos e soluços. O tratamento para esse tipo de situação é clínico. “É passada uma sonda pelo nariz que consegue descomprimir a área do intestino que está parcialmente trancada fazendo com que a secreção saia pela sonda. Desta forma, diminui o volume na região e o intestino volta a funcionar. Também são realizados hidratação e uso de antibióticos para não haver infecção por conta das bactérias presentes no intestino”.
Silvio comenta que o acompanhamento da saúde intestinal de paciente que passa por cirurgia invasiva tem que ser rotineiro. “Nos casos em que não é dada a devida atenção e o tratamento não é realizado a tempo, pode haver problemas de vascularização (que pode impedir o sangue de chegar na região), e o intestino necrosar, apodrecer, perfurar e ocorrer um caso mais grave se não tratado a tempo”, alerta.
Outras causas da obstrução intestinal além das aderências, são tumores, doenças inflamatórias intestinais, entre outras. “Como sabemos a origem do problema da saúde do intestino do presidente, essas outras situações só são avaliadas caso o tratamento inicial não tenha surtido efeito. Por se tratar de um chefe de Estado, a equipe médica faz um acompanhamento detalhado da saúde do presidente e está alerta para qualquer situação adversa como ocorreu agora”, encerra.